sábado, 24 de novembro de 2012

Crítica "Alô, Dolly!" - Blog Botequim Cultural




Uma nova adaptação de “Hello Dolly” acabou de entrar em cartaz no Teatro Oi Casa Grande, com direção de Miguel Falabella, que também protagoniza o espetáculo ao lado de Marília Pêra na companhia de um grande elenco composto por Alessandra Verney, Frederico Reuter, Uburacy Paraná, Ester Elias, Brenda Nadler, Ricardo Graça Mello, Patrícia Machado, Tiago Martins, numa super-produção que conta com mais de 30 pessoas em cena. 

A primeira montagem de “Alô Dolly” foi feita no Teatro João Caetano em 1966 tendo Bibi Ferreira e Paulo Fortes nos principais papeis, montagem esta que impactou tanto Marília Pêra, quanto Miguel Falabella, que agora têm a oportunidade de usufruir desse texto escrito em fins da década 50 por Michael Stewart musicado por Jerry Herman e que ficou por décadas em cartaz na Broadway, arrebatou 10 prêmios Tony e que em 1968 ganhou uma competente adaptação cinematográfica estrelada por Barbra Streisand e dirigida por nada mais, nada menos que Gene Kelly, adaptação esta que teve 7 indicações ao Oscar, levando 3 estatuetas. 

Baseado na peça “A Casamenteira”(The Matchmarker), que por sua vez foi profundamente influenciada por “O Avarento” de Molière, conta a história de Dolly Levi(Marília Pêra), casamenteira e viúva numa Nova York do finalzinho do século XIX, contratada por Horacio Vandergelder(Miguel Falabella), um rico, mal humorado e caipira comerciante do interior norte-americano que lhe imcube da missão de lhe arranjar uma esposa em Nova York; Apresenta-lhe inicialmente a Irene (Alessandra Verney), elegante dona de chapelaria. Após muitas confusões, mal-entendidos e armações envolvendo os noivos, Dolly, os empregados de Horacio, todos acabam por se encontrar em Nova York, aonde a própria Dolly tenta também encontrar seu bom partido. 

Ao assistir a espetáculos como “Alô Dolly”, tal como já me referi no post que escrevi sobre “Priscilla”, fico imaginando que há 15/20 anos atrás não havia condições no Brasil de realizar produções desse top, não havia artistas em quantidade com a versatilidade de cantar/dançar/representar, teatros com a capacidade de receber esse tipo de produção e principalmente…dinheiro. Hoje a situação é diferente, existe no Brasil quase que uma pequena indústria de musicais. 

Lógico que o primeiro nome que nos vem a mente quando falamos desse tipo de espetáculo é Claudio Botelho e Charles Möeller, mas outros nomes também despontam no gênero, permitindo que vários espetáculos musicais neste momento ocupem diversos teatros, principalmente no eixo Rio/São Paulo. Só para lembrar os que atualmente estão em cartaz e que me vêm a mente: O Mágico de Oz, Tim Maia, Nada Será Como Antes, Família Addams, Priscilla. Além de vários outros que já estão em produção, o que inclusive acabou criando um pequeno star-system. Daniel Boaventura por exemplo, emenda um musical no outro em São Paulo e acaba quase nem vindo pro Rio. 

Alessandra Verney só esse ano eu vi 5 vezes nos palcos(“Formidable”, “Beatles num Céu de Diamantes”, 2 vezes em “Movie Stars” e agora em “Alô Dolly”, isso porque não vi “Um Violinista no Telhado”)  

Essa fartura também já permite ao público ficar mais rigoroso e ter um senso crítico maior, não aceitando tudo passivamente, achando tudo lindo. Ou seja, criou-se uma cultura de espetáculo musical que só os humf…“mais ilustrados” se gabavam pelas suas incursões pela Broadway. Criou-se igualmente um público para esses espetáculos, capaz de encher todos os dias teatros de grande porte como o Oi Casa Grande no Rio ou o Teatro Bradesco em São Paulo, por exemplo. “Alô Dolly” é um espetáculo grandioso e que enche os olhos do espectador. 

Os figurinos, criados por Fause Haten, chamam a atenção pela riqueza, luxo e beleza, estando perfeitamente adequado a história que está sendo contada. Assim como a coreografia criada por Fernanda Chamma também é um dos pontos altos, além da orquestra maravilhosa que tem direção musical de Carlos Bauzys. O cenário do 1º ato carece de uma criação mais apurada, parece meio preguiçosa e óbvia apesar da grandiosidade, mas o do 2º ato (que se passa todo no Café das Delícias) impressiona, mesmo que possa por vezes remeter àquelas novelas mexicanas do SBT pela sua enorme escadaria, mas funciona muito bem para o espetáculo. 

A peça é dividida em 2 atos de aproximadamente 1h/1h10m cada e com um intervalo de 20 minutos entre os atos. Marília Pêra defende com graça e talento sua Dolly, deslizando com leveza pelo palco do Casa Grande e é responsável por alguns dos momentos de maior comicidade do espetáculo, apesar de não ser segredo para ninguém seus dotes vocais, postura corporal e principalmente sua veia cômica, incluindo suas coreografias. Miguel Falabella é um caso a parte. Possuidor de uma personalidade forte e marcante, é o tipo de ator que quando entra em cena hipnotiza e não deixa o público tirar os olhos dele. Acaba que vemos sempre o personagem Miguel Falabella e não Horacio Vandergelder. Não sei se isso é um crítica ou não, depende de como cada um vê. Falabella colocou um sotaque caipira que acabava por não soar verdadeiro (talvez porque fique difícil não ver Miguel Falabella), mas tal incorporação do sotaque era necessário para podermos entender a formação, origem e personalidade de seu personagem. 

 Quanto ao elenco, o destaque é obviamente Alessandra Verney. Escalar Verney é apostar na certeza, pois se trata de uma das melhores e mais competentes atrizes/cantoras do teatro nacional, sabe-se de antemão que ali não tem erro, o que acaba ajudando como apoio para o restante do elenco, que demonstra bastante competência, com destaque para Frederico Reuter. Apenas um comentário do tipo “nada a ver”: Não adianta que não chamarei nunca Ricardo Graça Mello de Ricardo Pêra (como é apresentado no cartaz). O “Menino do Rio” resolveu depois de “velho”(brincadeirinha) mudar de nome? Não, não, não, não! O cantor que eternizou “De Repente Califórnia” será sempre para minha geração RICARDO GRAÇA MELLO. 

 Mas voltando ao que interessa: No final das contas “Alô Dolly” é um espetáculo que encanta, e observando com atenção, ao final do espetáculo é impossível não perceber o semblante de felicidade de todos que deixavam o teatro.

Por: Blog Botequim Cultural




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